sexta-feira, 28 de março de 2008

MARROCOS II

Por falar em mesquitas e costumes islâmicos...


Por Lígia Halmenschlager, revisora de Português e corretora de redação.






Andando pelo Marrocos, tomamos contato com a sua cultura, que nos oferece aspectos tão diversos do que nos acostumamos a conviver no mundo ocidental, diversidade que deixa curiosos muitos turistas desavisados, principalmente no que diz respeito aos rígidos ensinamentos islâmicos e à prática religiosa dos marroquinos, que têm preceitos milenares inquestionáveis.
Tivemos oportunidade de conhecer mesquitas, e tentar entender um pouco as funções religiosas, sociais e políticas que esse local de culto islâmico assume para os muçulmanos. Bem como certas peculiaridades inerentes à prática religiosa, que nos traz questionamentos, principalmente pela fé cega que envolve seus seguidores.
O objetivo principal da mesquita é o de servir como local onde os muçulmanos possam se encontrar para rezar, além disso, lá se pode aprender sobre o Islã e abrigar instituições educativas, principalmente em países onde não existem escolas islâmicas. Também, onde o islamismo não é a religião da maioria da população, se ensina árabe e são realizadas leituras do Alcorão dentro das mesquitas.


Nas sextas-feiras, a comunidade islâmica se reúne nas mesquitas, ao meio-dia, para oração, mas não só para isso. Lá acontece o khutbah, que é um sermão ou discurso onde se aprofundam questões sociais, políticas, morais e tudo o que interessa à comunidade.
O papel político exercido por esses templos ao longo da história mostra que quase todas revoluções e levantes populares começaram após discursos de líderes numa mesquita. E os fiéis são obrigados a defender o que ficou decidido no sermão, digamos assim. Devido a possíveis desdobramentos políticos desses pronunciamentos, nos países onde o governo não é muçulmano, ou não é fundamentalista, agentes especiais são enviados para observar e vigiar as mais importantes mesquitas do país.
As mesquitas que ficam em países europeus são financiadas, na maioria, pela Arábia Saudita, e claro, controladas totalmente por ela, que impõe seus chefes – imãs – e sua ideologia. Um jornal saudita publicou em 2002 que havia em torno de 1,5 mil mesquitas e 2 mil centros islâmicos em países onde os muçulmanos não são a maioria da população. Isso assusta um pouco, não? E dá uma dimensão do processo migratório de muçulmanos para o continente europeu.
Lá do alto dos seus minaretes, torres altas, tal qual as das igrejas cristãs, a voz do muezim chamava para as cinco orações diárias. Hoje, são usados alto-falantes. Os minaretes também não deixam de servir como uma afirmação de superioridade do Islã sobre as outras religiões. Várias vezes ouvimos esse chamado passeando por Marrakech e Fes, são em árabe, é claro, e parecem um lamento...
Outra particularidade da mesquita é que, ao contrário de outros locais de culto, as imagens de pessoas, de animais ou de figuras religiosas não existem no salão de orações, porque o Islã é contra a representação de figuras, por entender que os muçulmanos devem fixar sua atenção em Deus. Ou em Alá...
Mas,´para nós ocidentais, o que representa de mais atrasado é a forma como a cultura islâmica ainda trata as mulheres, na questão que transcende o aspecto religioso para entrar nessa verdadeira discriminação que elas sofrem até hoje. A lei islâmica estabelece que mulheres e homens devem ocupar posições separadas no salão de orações, mais especificamente, devem ficar, como sempre, atrás dos homens. O profeta Muhammad ia mais longe, considerava que elas deveriam rezar em casa, e que “ a melhor mesquita para as mulheres é a parte interior das suas casas”.
O absurdo continua hoje em dia, porque muitas mesquitas determinam como local reservado para as mulheres um quarto separado ou uma área atrás de uma cortina, onde elas não podem ver o imã, padre, digamos assim. Olhem o absurdo! Já as mesquitas do Sul e Sudeste da Ásia colocam homens e mulheres em salas separadas. Algumas, sequer admitem a presença de mulheres, como vimos em Fes, perto do nosso hotel. Elas, e as crianças, tinham de ficar na rua, na calçada, esperando seus homens rezarem. Isso à noite, lá pelas 23 horas...
Essa segregação e discriminação de gênero acontecem na vida das mulheres de religião islâmica de maneiras mais ou menos rígidas, mas continuam existindo no dia-a-dia, pois a elas muito pouco é permitido, aliás, quase tudo é negado. Este é um dos graves problemas do islamismo, ser essencialmente machista, bem como pregar a absoluta aceitação de seus preceitos e normas, sem a menor possibilidade de contestação. E isso é sempre uma coisa muito perigosa, pois usa a fé acima da razão.
Lígia

Um comentário:

LUNA disse...

Um local que nunca vesitei mas tenho curiosidade dem fazê-lo... conhecer e ver de perto uma cultura tão diferente da nossa!!!