quinta-feira, 1 de maio de 2008

MAIS VIAGENS!!!!!!!!

Granada, tierra soñada por mi, mi cantar se vuelve gitano cuando es para ti...
Por Lígia Halmenschlager, revisora de Português e corretora de redação.



Atenção mulheres... Granada é o canal!!!!

Foi com essa música, colocada pelo nosso guia no ônibus, que entramos em terrenas granadinas. E eu recordei dela, cantada na minha infância e juventude por um trio, que fazia serenatas nas madrugadas da minha terra. Dizem os espanhóis que quem não foi a Granada não viu nada. Talvez pelo conjunto de belezas arquitetônicas andaluzas, bem como pela cidadela de Alhambra, um dos conjuntos arquitetônicos mais importantes da Idade Média e o máximo expoente da arte islâmica no Ocidente. E uma maravilha!
Aprendi lá, não sabia, que granada é a nossa tão conhecida fruta romã. Tem fontes com romãs no seu topo, árvores de romã pela cidade, enfim, é o seu símbolo. Curiosidades que se aprende viajando.
Mas voltemos à magnífica la Alhambra, que fica no bairro cigano de Albaicín, e ocupa uma superfície aproximada de 13 hectares, cercados por 2 kilômetros de muralhas, reforçadas por quase trinta torres, algumas já destruídas. Imaginem a imponência , e fica lá no alto de uma colina cujo cume supera os 700 metros sobre o nível do mar. É lindo demais olhá-la do mirante San Nicolás, ainda mais à noite, quando sua história nos foi contada por um descendente da primeira cigana que lá chegou. Dizem que os ciganos vieram com as tropas cristãs dos Reis Católicos para trabalharem como artesãos do metal. E fizeram as cuevas, verdadeiras grutas cavadas na montanha, e moram até hoje lá em casas adaptadas nesses espaços. Tem uma até com um tipo de churrasqueira e piscina. Dizem que existem hotéis-cuevas em Granada.
E pensar em toda história que ela guarda, pois a Alhambra foi mais do que um palácio, era uma cidade real em escala reduzida, e tinha edifícios para moradia e administração, quartéis, estábulos, mesquitas, escolas, banhos, cemitérios e jardins. Parte dessa estrutura se foi com o tempo, mas a residência real está conservada na sua beleza e nos remete ao que deveria ter sido sua época áurea. É passeando pelos seus aposentos que entramos como num conto oriental que foi sendo escrito num processo de construção de três séculos, com seus traços andaluzes , islâmicos e cristãos.
E até hoje se pode ver a Bab, porta, por onde foi embora seu último rei árabe, Boabdil el Chico, quando precisou entregar Alhambra para os vencedores, os Reis Católicos, em 1492. Aí acontece o fim da dominação árabe. Diz a lenda que ele se refugiou na Sierra Nevada, quando morre a sua amada esposa, devia ser a favorita, porque eles podiam ter até quatro casamentos oficiais.... Como ele chorava muito a perda, a montanha ficou conhecida como o Suspiro del Mouro.
Quando circulamos pelos palácios, com suas abóbodas espetaculares, de uma policromia de várias tonalidades, azulejos também multicoloridos, muito mármore, gravuras ,aprendemos a ver inscrições nas fachadas e paredes escritas na língua árabe, predominantemente. Referem-se fundamentalmente a temas religiosos junto a louvores ao Sultão Yusuf I. Ou são poemas lapidados com caracteres andaluzes e da dinastia nazarí. As paredes são verdadeiros tapetes pendurados. A escritura árabe nas paredes se equipara às imagens sagradas da arte cristã e constitui o substituto dessas imagens.
Enfim, viajar é preciso para poder saborear essas histórias que os séculos de conquistas, guerras e reconquistas por diversas civilizações deixaram registradas para que pudéssemos nos maravilhar.

sexta-feira, 28 de março de 2008

MARROCOS II

Por falar em mesquitas e costumes islâmicos...


Por Lígia Halmenschlager, revisora de Português e corretora de redação.






Andando pelo Marrocos, tomamos contato com a sua cultura, que nos oferece aspectos tão diversos do que nos acostumamos a conviver no mundo ocidental, diversidade que deixa curiosos muitos turistas desavisados, principalmente no que diz respeito aos rígidos ensinamentos islâmicos e à prática religiosa dos marroquinos, que têm preceitos milenares inquestionáveis.
Tivemos oportunidade de conhecer mesquitas, e tentar entender um pouco as funções religiosas, sociais e políticas que esse local de culto islâmico assume para os muçulmanos. Bem como certas peculiaridades inerentes à prática religiosa, que nos traz questionamentos, principalmente pela fé cega que envolve seus seguidores.
O objetivo principal da mesquita é o de servir como local onde os muçulmanos possam se encontrar para rezar, além disso, lá se pode aprender sobre o Islã e abrigar instituições educativas, principalmente em países onde não existem escolas islâmicas. Também, onde o islamismo não é a religião da maioria da população, se ensina árabe e são realizadas leituras do Alcorão dentro das mesquitas.


Nas sextas-feiras, a comunidade islâmica se reúne nas mesquitas, ao meio-dia, para oração, mas não só para isso. Lá acontece o khutbah, que é um sermão ou discurso onde se aprofundam questões sociais, políticas, morais e tudo o que interessa à comunidade.
O papel político exercido por esses templos ao longo da história mostra que quase todas revoluções e levantes populares começaram após discursos de líderes numa mesquita. E os fiéis são obrigados a defender o que ficou decidido no sermão, digamos assim. Devido a possíveis desdobramentos políticos desses pronunciamentos, nos países onde o governo não é muçulmano, ou não é fundamentalista, agentes especiais são enviados para observar e vigiar as mais importantes mesquitas do país.
As mesquitas que ficam em países europeus são financiadas, na maioria, pela Arábia Saudita, e claro, controladas totalmente por ela, que impõe seus chefes – imãs – e sua ideologia. Um jornal saudita publicou em 2002 que havia em torno de 1,5 mil mesquitas e 2 mil centros islâmicos em países onde os muçulmanos não são a maioria da população. Isso assusta um pouco, não? E dá uma dimensão do processo migratório de muçulmanos para o continente europeu.
Lá do alto dos seus minaretes, torres altas, tal qual as das igrejas cristãs, a voz do muezim chamava para as cinco orações diárias. Hoje, são usados alto-falantes. Os minaretes também não deixam de servir como uma afirmação de superioridade do Islã sobre as outras religiões. Várias vezes ouvimos esse chamado passeando por Marrakech e Fes, são em árabe, é claro, e parecem um lamento...
Outra particularidade da mesquita é que, ao contrário de outros locais de culto, as imagens de pessoas, de animais ou de figuras religiosas não existem no salão de orações, porque o Islã é contra a representação de figuras, por entender que os muçulmanos devem fixar sua atenção em Deus. Ou em Alá...
Mas,´para nós ocidentais, o que representa de mais atrasado é a forma como a cultura islâmica ainda trata as mulheres, na questão que transcende o aspecto religioso para entrar nessa verdadeira discriminação que elas sofrem até hoje. A lei islâmica estabelece que mulheres e homens devem ocupar posições separadas no salão de orações, mais especificamente, devem ficar, como sempre, atrás dos homens. O profeta Muhammad ia mais longe, considerava que elas deveriam rezar em casa, e que “ a melhor mesquita para as mulheres é a parte interior das suas casas”.
O absurdo continua hoje em dia, porque muitas mesquitas determinam como local reservado para as mulheres um quarto separado ou uma área atrás de uma cortina, onde elas não podem ver o imã, padre, digamos assim. Olhem o absurdo! Já as mesquitas do Sul e Sudeste da Ásia colocam homens e mulheres em salas separadas. Algumas, sequer admitem a presença de mulheres, como vimos em Fes, perto do nosso hotel. Elas, e as crianças, tinham de ficar na rua, na calçada, esperando seus homens rezarem. Isso à noite, lá pelas 23 horas...
Essa segregação e discriminação de gênero acontecem na vida das mulheres de religião islâmica de maneiras mais ou menos rígidas, mas continuam existindo no dia-a-dia, pois a elas muito pouco é permitido, aliás, quase tudo é negado. Este é um dos graves problemas do islamismo, ser essencialmente machista, bem como pregar a absoluta aceitação de seus preceitos e normas, sem a menor possibilidade de contestação. E isso é sempre uma coisa muito perigosa, pois usa a fé acima da razão.
Lígia

quinta-feira, 27 de março de 2008

MARROCOS

Pra lá de Marrakech

Por Lígia Halmenschlager, revisora de Português e corretora de redação.




É quase pra lá de Marrakech, onde os mudos até falam, na tentativa de tirar uma graninha extra na venda de qualquer coisa, ou no auxílio ao turista desavisado que tenta dar uma de “sabe tudo”e se embrenha nas tais medinas. Aqueles labirintos que nem Alá se acha. O tal mudo não têm profissão definida, mas até poderia ter um crachazinho de “Ajudante de guia turístico” nesses emaranhados que qualquer vivente se perde lá no Marrocos...
Quem não gosta disso é tal polícia turística, que está a postos para barrar qualquer tentativa de mudo querer ser guia. E até falar, servindo de intermediário numa negociação de venda de peças de seda. Imagine só a cena! Mas ele é mudo, ou quase, mas burro não é. Burro é aquele que serve pra levar carga pelas medinas da vida, até hoje.
Ele não, é muito inteligente, esperto e bom negociante, como todo árabe. “Fazemos qualquer negócio. Diz, señora, quanto paga”, fala o vendedor nas lojinhas.
“ Son ocho euros”, explica a vendedora de pulseiras e bugigangas na frente dos hotéis dos turistas. Ou aqueles vendedores ambulantes que vêm com pochetes ou bolsas de couro fedidas, tingidas com qualquer anilina de cor, dizendo que são legítimas: “Custa só diez euros”, señora. Sim, porque eles falam um espanhol, com sotaque árabe, pra não perder o freguês. E se você vai partir às 7 horas da manhã, não tem problema, lá estão eles prontos na frente do hotel pra oferecer as fotos do dia anterior a dois euros, sem choro. Sem choro não, porque não existe negociação no Marrocos sem o choro da pechincha. Eles gostam, acho que até não vivem sem isso. E pra vender não tem nem mês de Ramadã que os impeça de negociar, tentar vender coisas falsas por verdadeiras.






Eles não bebem, jejuam durante o dia nesse mês, mas deixar de vender, nunca! À noite, depois que o sol se põe, os homens se vão aos bares beber... chá de hortelã. E só os homens, lá a emancipação feminina ainda está longe de chegar. Elas vão continuar andando na rua atrás dos seus homens, de chelaba (túnicas), às vezes até de burca. E servindo seus maridos. Mais dentro de casa do que fora. Houve tempo em que elas nem janelas tinham em casa, pra não tentá-las a ver o que acontecia na rua. . Já os machos têm direito de casar oficialmente com quatro mulheres, além das concubinas que puderem sustentar. E tinham “a favorita”.
Enquanto você morre de medo de se perder nas medinas, quase morre de tanto comer aquelas delícias marroquinas, tudo regado com muita amêndoa, ameixas, mel e especiarias multicoloridas! E os doces, naquela profusão de cores e formatos espalhados nas bancadas das tiendas das medinas? Se bem que, às vezes, o mau cheiro dos cortes de carne de cordeiro ou gado na bancada à frente não permite que você consiga parar um minuto para apreciá-los! Ou as abelhas que se apropriam deles pelo odor e também expulsam qualquer turista apaixonado pelo doce marroquino.
Isso tudo mesclado às belíssimas avenidas, com palmeiras, fontes, flores e até pés de olivas, que cortam cidades como Marrakech ou Fez. É tanto verde que você esquece que está no Marrocos. E os hotéis que nos oferecem? Contos de mil e uma noites! Com fotos do atual rei, claro, sempre um Mohammed ou um Hassan. Há, quase ia me esquecendo, o tal mudinho que falava se chamava Mohammed também. Nenhuma novidade.

Lígia

Outubro de 2007

quarta-feira, 26 de março de 2008

Cantos de Trabalho

Passando pelas zonas rurais, não raro, nos depararmos com mulheres trabalhando na roça, e observando melhor quase sempre estão cantando. E como dizem “quem canta seus males espanta”, é no ritmo de suas cantorias, vão fiando o algodão, peneirando o feijão, colhendo o arroz, e esperando mais um deitar de sol.
Renata Mattar, musicista, sensível e observadora deste ritual, se pôs a campo para realizar uma pesquisa, nas comunidades rurais do Brasil e extrair suas musicalidades. Assim nasceu o CD “ Cantos de Trabalho” e logo em seguida o show com o mesmo nome, que contou com a participação de uma das comunidades pesquisadas – as destaledeiras de fumo do interior de Alagoas – além do violinista Felipe Dias da Cantora Lucilene Silva e uma participação especial da cantora Ceuma.
De uma conferida no trabalho pelo YouTube.

domingo, 23 de março de 2008

TINA TURNER - O REVÉS

Por Clau Sieber
A pequena Anna Mae Bullock sentia-se rejeitada pela mãe... Começa a história de uma grande Diva (apesar deste termo ser reducionista demais, no caso de Tina), no povoado de Nut Bush, na longuínqua Tenesse. Reduto de negros, mas também de brancos, Anna Mae cresceu respeitando as regras de um país racista. Onde os brancos eram brancos e os pretos, com a graça de Deus, podiam ser pretos. E tinham sua maneira própria de viver, sua moral questionável (mas não entre os pretos) seus ritmos, seus Holes - redutos de bares, inferninhos e muita, muita música preta.
Foi lá pelo fim da sua precoce adolescência, que Anna Mae conheceu Ike Turner, um mago da música local, que hipnotizava a todos, principalmente as mulheres.
Ike seria mais tarde a grande provação de Tina. Mestiça de índios e negros, a beleza de Tina é incomparável, mas a menina criada a pau e corda, não se achava bonita. Destacava-se no colégio, mas pelos esportes. Ia a Igreja, mas pra cantar. Ia aos Holes e lá ficava, quietinha, aguardando sua vez, assistindo, coração aos pulos, os Kings of Rhythm, banda e R & B (Rhythm and Blues), que Ike liderava, um sucesso absoluto na época, em St. Louis, por volta de 1950.
Desde a primeira noite em que subiu ao palco pra cantar, Ike viu em Tina um grande futuro (para ele, é claro), violento e dominador, este homem logo tratou de ter Tina como uma aliada, a princípio por uma estreita amizade (Tina teve outro envolvimento, e até um filho). Mas Tina já fazia tudo com Ike queria, com Ike pensava, como Ike imaginava. A parceira perfeita.
A velha saga das mulheres para se sentirem aceitas. Ike e Tina logo começaram a ter um caso... Ele casado, ela, apaixonada. Não demorou muito para que levasse a primeira surra. Não demorou também para que Tina se sentisse completamente controlada pelo medo.
E assim foi, uma sucessão de sucessos musicais, olhos roxos, lábios partidos, costelas e até mesmo um maxilar quebrado - e sem suspender as intermináveis excursões - 4 ou 5 apresentações por noite e ainda ensaios posteriores. Uma verdadeira escravidão. O incrível é que Tina não ganhava um tostão por seu desempenho na Revue (então nome da Banda), é certo que Ike lhe dava muitos presentes, e dinheiro para ir as compras, porque queria sempre suas mulheres muito, muito bonitas. Eu disse suas? Sim, Ike teve, ao longo do relacionamento com Tina, mais de 100 mulheres, amantes, - todas sempre de alguma maneira ao seu serviço. Rodeava-se delas. Era seu jeito de manter-se sempre no poder. Todas apanhavam sem exceção. A personalidade doentia e posteriormente psicótica de Ike Turner poderia ser o centro deste breve ensaio, tamanha era sua força e complexidade. Um cara mau, muito mau. Mas vamos nos ater a Tina. Afinal Outra Leitura é um espaço preferencialmente feminino.
Pelos final dos anos 60, Ike e tina eram sucesso internacional. A Inglaterra os adorava, Austrália e onde mais quer que fossem excursionar. Mas para Tina, era o sucesso de Ike. Demorou para ela perceber que as multidões enlouqueciam quando aquela cantora sexy e agitada, que mais parecia um furacão, soltava seu vozeirão que ia do rouco ao mais agudo, entre gemidos, gritos e susurros, profudamente sensual. E as pernas de Tina? Os vestidos eram cada vez mais mínimos. No palco, Tina vivia, por ainda fazer só o que Ike gostava, uma ilusão de si mesma. Mas ali ela conseguia fazer fluir toda sua personalidade e magnetismo. O público delirava. Tina enfrentou pneumonia, hepatite, (grávida), tuberculose, teve de cantar esguichando sangue após um parto, e, constantemente, Ike a arrancava dos hospitais a fim de não suspender as apresentações. Entrava rios de dinheiro... Ike construiu dois ótimos estúdios. Comprou propriedades... E Tina apanhava. Ike começou a cheirar cocaína e, as estas alturas, tornava a vida de qualquer pessoa próxima a ele um inferno. Chegava a ficar 5 dias acordado, no estúdio, e quando adentrava em casa era um demônio. As crianças corriam pra se esconder. As crianças: eram 4 (um filho de Tina, um filho dela com Ike, e mais dois meninos de Ike). Por eles, e principalmente por eles, Tina suportava tudo. E havia o encantamento do Show business. Brilhos luzes, roupas e perucas e, pouco tempo para refletir. Houve uma vez em que ela, em umas das raras vezes que se permitia refletir sobre si mesma, desistiu de tudo – pensar eu aquela grande batalhadora chegou a este ponto é terrível – mas Tina engoliu 50 comprimidos de Valium e ainda tentou ir até o palco... mas no camarim já desmaiou. Sim, ela ainda raciocinou que, se caísse no palco, Ike receberia o dinheiro da apresentação. Ela realmente achava que devia a aquele algoz. Isso foi em 1968 – quando Tina começou a odiar o cara. Demorou. Mas Tina começava a emplacar alguns sucessos solo (com permissão de Ike, é claro) e se distanciava emocionalmente cada vez mais dele. Começou a perceber seu poder, começou a ver vida dentro dela. Participou de um filme (Tommy) e viu que havia vida fora do espectro demoníaco de Ike. Em 1975 foi sua primeira tentativa de deixá-lo, claro que ele a achou e lhe deu um homérica surra. Mas isso não amedrontava mais a nossa deusa, ela já tinha apanhado demais pra ainda ter medo.
Em 1º de julho de 1975, Tina realizou sua derradeira fuga. Com apenas 36 cents na mão, por meses, precisou da ajuda de amigos. Nossa imbatível guerreira retribuía esta ajuda prestando serviços domésticos. Durante muito tempo ela e as pessoas que a auxiliavam sofriam ameaças e pressões de Ike. Quando ela se foi, os filhos contaram que ele chegou a ficar 14 dias acordado. Ela escapara do seu domínio. Seu império do medo começava a ruir. Tina não cedeu a nada, e, aos poucos, recomeçou uma banda, contratou dançarinas, e começou a se apresentar no circuito de cabarés – Los Angeles. Mas logo as gravadoras começaram a lhe dar chances. Principalmente depois do sucesso retumbante de Let's stay toghether. Tina pagou suas dívidas (ficou devendo cerca de 400 mil dólares), afinal Ike imputou a ela a responsabilidade e o prejuízo dos cancelamentos de contratos da banda. Ela nunca obteve nada com o divórcio, somente uma pensão para ela e os filhos. Tina desistiu de lutar com Ike na justiça. Queria paz e distanciamento dele. E o sucesso absoluto a consagração solo vieram. Com a luta e a dedicação de quem fazia das tripas coração, Tina Turner tornou-se ela só – um sucesso mundial. Sua história fica de presente a muitas gerações de mulheres. Principalmente para aquelas que pensam que chegaram ao fundo do poço. Ela nos provou, com seu revés, que sempre existe uma volta quando olhamos além do medo e da dominação masculina.
Atenção girls de todas as idades: a paixão pode escravizar. Olhos bem abertos. Cair em ciladas em nome do amor é normal, a vossa escritora que o diga. Mas persistir, ou se entregar - ou não se entregar – pode ser uma decisão nossa.
“Let’s stay toguether”, but take care...
Esta humilde explanação foi escrita após a leitura do livro EU, TINA – A HISTÓRIA DA MINHA VIDA, Curt Loder, editora Racco. Escrito em 1987. Confiram no You Tube a performance de
Let’s stay toguether - No rosto dela está estampado e dor e a delícia de se ser o que é. Vejam também no You Tube a performance de Beyonce, numa homenagem a Tina, durante o último Grammy. E muitos, muitos outros vídeos, até mesmo dos anos 60. Foto: Tina e Ike.

sexta-feira, 14 de março de 2008

O que é a "bolsa estupro"

Para um melhor entendimento dos projetos que estão tramitando sobre o tema estupro na Câmara de Deputados, seguimos com a seguinte explicação:
Esta em tramite na Câmara dos Deputados o Projeto de Decreto Legislativo (PDC) 42/2007 de autoria de Afonso Henrique (PT/AC) que pretende sustar a aplicação da Norma Técnica do Ministério da Saúde que dispõem os procedimentos para a realização de aborto decorrente de estupro na rede pública.
Pela Norma, a mulher que chegar na rede pública de saúde, vitima de estupro, passará por alguns procedimentos que avaliarão a ocorrência do fato. Esses procedimentos serão realizados por profissionais totalmente capacitados, como médicos, psicólogos e assistentes sociais.
Assim, serão necessários 4 (quatro) procedimentos para a realização de aborto decorrente de estupro, sendo eles: Justificação, Autorização, Termo de Responsabilidade e Termo de Consentimento. Sem a necessidade de Boletim de Ocorrência (BO).
Também esta tramitando o Projeto de Lei (PL) 1763/2007, de autoria de Henrique Afonso(PT/AC) o mesmo da PDC, e Jusmaria Oliveira (PR/BA), prevendo que, no caso de estupro a mulher fique grávida, ela poderá prosseguir com a gravidez e poderá optar entre criar a criança ou dar em adoção O objetivo do projeto é combater o aborto nos casos de estupro. Se optar por cria-la receberá do governo, o valor de 1 (um) salário mínimo até a criança completar 18 (dezoito) anos, que esta sendo chamado de “bolsa estupro”.
Para fazer jus ao beneficio do salário mínimo, segundo a PL é necessário o transito em julgado do processo, ou seja, ficar provado que houve o estupro.
Só neste fato, já estaríamos esbarrando num grande entrave chamado tempo. Pois é sabido que um processo de estupro não se resolve em meses, e sim em anos, e no mínimo 3 (três) atualmente.
Atualmente, a mulher vítima de estupro tem toda uma rede de apoio a seu dispor, conforme prevê a Norma Técnica do Ministério da Saúde, que inclui profissionais de saúde, psicologia, assistência social, que fazem todo o acompanhamento, amparando a mulher na sua escolha, seja ela qual for, pois, não é obrigada a fazer o aborto, mas se assim decidir, terá toda a assistência necessária.
Esta PL, não tem nenhum embasamento legal, psicológico e social, apenas vai representar um retrocesso na luta das mulheres, pois observa o problema apenas sob o ponto de vista religioso, ora, sendo o Brasil um país laico, tal consideração nem ao menos poderia ter sido feita.
Caso resolva prosseguir na gravidez e dar para adoção, também contará com uma rede a seu dispor embora é certo que esta rede precise ser revigorada.
Assim, a PL não estará resolvendo o problema e sim criando vários, é preciso ficar atento para seu tramite para que não seja aprovada na calada do Congresso.
Já esta havendo movimento das entidades feministas que enviaram uma carta aos deputados da Comissão de Seguridade Social e Família onde esta atualmente o projeto, desde dezembro.Nós estaremos informando e fomentando o debate com mais post sobre o assunto.

quarta-feira, 12 de março de 2008

DOCUMENTÁRIO RETRATOS DO SILÊNCIO


Está sendo realizado na Oficina de Criatividade do Hospital psiquiátrico São Pedro um Documen-tário de nome “Retratos do Silêncio”, concebido pela psicóloga Regina Longaray Jaeger, que enfoca a maneira de como os internos reagem ao silêncio ao qual foram condenados - produzido pelo Laboratório Experimental (Marcelo Gobatto e Juliano Ambrosini).
A concepção do Documentário é a seguinte: a história do Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP), referência em saúde mental do estado, desde 1884, mistura-se à história da cidade de Porto Alegre. Durante mais de um século, o Hospital abrigou milhares de internos que, por uma razão ou outra, se viram desvinculados do convívio social, familiar e econômico. Essas pessoas, mesmo vivendo num regime de severa privação, mantiveram no entanto uma intensa atividade criativa, seja na produção plástica, na escrita ou na produção de objetos inventivos, afirmando e expressando, deste modo, uma força vital inusitada. No documentário que ora propomos, buscamos explorar esta atividade expressiva vital, concretizada nas obras realizadas pelos internos do HPSP. Para tanto, acompanharemos a trajetória de três pacientes que encontraram na prática artística uma maneira de existir: Claudina, Natália e Vilmar.
O documentário pretende trabalhar com a palavra e a imagem de uma forma aberta, buscando uma associação poética entre os depoimentos das personagens e a sua produção artística, seja ela a caligrafia presente na palavra escrita de Claudina, as linhas e as cores dos desenhos de Natália, ou os objetos singulares criados por Vilmar. Constrói-se assim uma dupla narrativa, em que os depoimentos dos pacientes evocam suas memórias, tempos e espaços subjetivos e, simultaneamente, "reverberam" nas imagens expressivas de seus trabalhos.
A relevância de se documentar as produções artísticas dos internos consiste em se afirmar a potência de vida destas pessoas, que ultrapassam simbolicamente os muros do Hospital. Trata-se de reinventar suas histórias de vida e aproximá-las da cidade. Ao pintar, bordar e escrever, o que eles fazem não é só expor suas memórias, mas criar uma nova maneira de existir no Hospital. O único e valioso capital que eles possuem é a vida em seu estado extremo de sobrevida e resistência, e que tem como vetor de expressão a arte.
Assim, que houver o lançamento do Documentário coloco aqui.